O reconhecimento público de que o bem‐estar humano depende da
forma como gerimos os ecossistemas que nos rodeiam representa o prin‐
cipal desafio do programa Bioeventos 2010 (http://bioeventos2010.ul.pt).
O bom funcionamento dos ecossistemas e os serviços que estes nos pres‐
tam dependem da gestão da biodiversidade que os compõem. Mas a bio‐
diversidade está a perder‐se de forma acelerada e irreversível.
Decorrente de uma parceria entre o Centro de Biologia Ambiental e o
Museu Nacional de História Natural, os Bioeventos 2010 assumem o papel
estratégico da Universidade de Lisboa na investigação e divulgação da Bio‐
diversidade em Portugal e inserem‐se nas comemorações do Ano Interna‐
cional da Biodiversidade.
Se, por um lado, são as acções humanas que estão a diminuir a capaci‐
dade de resposta de muitos ecossistemas à crescente procura dos seus ser‐
viços, o reverter desta situação apenas será possível através de uma estra‐
tégia abrangente e de um esforço social colectivo por parte de investigado‐
res, professores e técnicos (promotores do conhecimento), decisores (res‐
ponsáveis pela implementação de políticas e mecanismos apropriados),
media (veículos privilegiados para a chamada de atenção e divulgação) e da
sociedade civil (principais beneficiários e um dos instrumentos possíveis de
monitorização do estado da biodiversidade).
A participação da sociedade civil em questões de foro ambiental em
Portugal ainda se encontra longe da consolidação desejável. Ao contrário do
que sucede em muitos outros países desenvolvidos, o envolvimento público
em matéria de monitorização não é prática corrente no nosso país e a sua
importância, por exemplo, na avaliação de tendências populacionais de
espécies tem sido negligenciada.
Inverter esta situação é o desafio que colocamos nas vossas mãos: pro‐
curamos aqui fornecer informação e um instrumento de trabalho que pos‐
sibilite a participação de todos na monitorização da abundância e da diver‐
sidade de espécies em território nacional.
A biodiversidade todos os dias atravessa as portas de nossa casa, por
exemplo, através dos alimentos que consumimos ou dos organismos que
inesperadamente entram devido aos nossos hábitos e práticas. Além disso,
basta olhar através de uma janela para nos sentirmos atraídos por uma
flor colorida, um insecto estranho que nela pousa ou uma ave que, em voo
picado, tenta apanhar esse insecto. E quanto mais olhamos para a Natu‐
reza, maior é a vontade de conhecer esse mundo que nos rodeia e compre‐
ender as razões que por vezes levam ao desaparecimento da biodiversidade
que constitui o nosso quotidiano.
E porque não dar mais um passo? Para tal basta criar o hábito de olhar
em volta, registar o que se observa e comunicar essa observação. Observa‐
ções continuadas no espaço e no tempo são a informação base das activi‐
dades de monitorização e são o instrumento necessário para prever alte‐
rações no estado da biodiversidade e os seus efeitos. Esta monitorização é
particularmente relevante quando se trata de espécies vulneráveis e reco‐
nhecidamente ameaçadas. Assim, o que lhe propomos é que saia para a
rua (seja o seu jardim, um parque na cidade, uma zona florestal, um campo
agrícola, uma praia, ou uma área protegida), olhe à sua volta, procure um
animal ou uma planta, fotografe e tente identificar a espécie através das
descrições e fotografias que fornecemos neste guia de campo.
A diversidade de espécies existente no nosso país é de tal forma ele‐
vada que não é possível incluir todas neste primeiro guia. No entanto,
e enquanto não são disponibilizados guias temáticos mais completos,
seleccionámos um conjunto vasto de espécies comuns, e como tal de fácil
observação, para tornar o desafio mais apelativo e criar uma dinâmica de
participação que, esperamos, seja consolidada na nossa sociedade.
Para atingir em pleno os objectivos aqui propostos, é ainda preciso que
os registos das observações sejam comunicados e armazenados. Assim, foi
criada uma base de dados online sobre a biodiversidade nacional (http//:
www.biodiversity4all.com) onde pode submeter os registos das suas obser‐
vações. Uma vez validados por especialistas, estes registos poderão ser
visualizados não apenas por si mas por todos os que acedam ao site.
Não espere mais! Saia para a rua, sozinho, com amigos ou em família,
e ajude‐nos a conhecer melhor a nossa biodiversidade.
A sua participação fará a diferença.
Margarida Santos‐Reis
Pela Comissão Organizadora dos Bioeventos